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Caso Bernardo: segundo dia de júri retorna com depoimento de Delegada Regional

O júri de Leandro Boldrini, que está ocorrendo na Comarca de Três Passos



21/03/2023 18:06 por TJRS

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Delegada Regional de Três Passos foi a segunda testemunha ouvida em plenário, arrolada pela acusação Créditos: Márcio Daudt - DICOM/TJRS

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O júri de Leandro Boldrini, que está ocorrendo na Comarca de Três Passos, entrou no segundo dia com o depoimento da Delegada Regional Cristiane de Moura e Silva Braucks. A Policial auxiliou nas investigações do desaparecimento do filho do réu, Bernardo Boldrini, em 04/04/14, e, posteriormente, da morte dele, com a descoberta do seu corpo, dez dias depois, às margens de um rio em Frederico Westphalen.

Leandro Boldrini não estará presente hoje em plenário. Ele chegou a comparecer ao Foro, precisou de atendimento médico e foi dispensado.

O acusado responde pelos crimes de homicídio quadruplamente qualificado (motivo torpe, motivo fútil, e emprego de veneno e dissimulação), ocultação de cadáver e falsidade ideológica. A Juíza de Direito Sucilene Engler Audino, titular da 1ª Vara Judicial de Três Passos, preside o Tribunal do Júri. O Conselho de Sentença é formado por seis homens e uma mulher.

Esta é a segunda vez que o pai de Bernardo está sendo julgado. Em março de 2019, ele foi condenado a 33 anos e 8 meses de prisão, juntamente com os outros três acusados. Uma decisão da 1ª Câmara Criminal do TJRS, em dezembro de 2021, anulou o julgamento de Leandro.

Investigações

O depoimento da Delegada Cristiane foi longo, durou mais de 4 horas. Ela contou que a Polícia foi na segunda-feira (07/04/14), pela manhã, na casa de Leandro Boldrini, após ele ter feito o registro do desaparecimento do filho. Os Policiais trabalhavam com a possibilidade de o menino ter ido embora espontaneamente, ter sido sequestrado ou morto (homicídio).

"Quando as investigações apontaram para a última opção, informei Leandro, e ele me disse que a vida dele seguiria", afirmou a agente. O comportamento do réu, a cumplicidade dele com a companheira, Graciele Ugulini, os relatos das testemunhas, o receituário utilizado para compra do sedativo, assinado pelo médico, e um suposto acordo para inocentá-lo foram alguns dos fatores que levaram ao seu indiciamento.

Ida a Frederico Westphalen

Os Policiais ouviram testemunhas que conheciam a família e diziam que Bernardo e a madrasta não se davam bem, que o menino andava muito sozinho, "implorava por carinho, não tinha roupas adequadas". Que, em datas especiais, ele costumava passar fora de casa. Inclusive, que no aniversário, afirmou que procuraria uma casa onde tivesse "um bolinho para ele".

As testemunhas também contaram à Polícia que, quando o menino estava fora de casa, o orientavam a ligar para o pai, mas muitas vezes não conseguia contato. "Dificilmente havia retorno dessas ligações".

No dia em que desapareceu, Bernardo foi com Graciele até Frederico Westphalen para comprar peixes e um aquário para ele. "Quando as pessoas souberam deste fato, estranharam, pois isso não aconteceria normalmente", afirmou. Também chamou a atenção que o menino recebeu atenção especial de Leandro e Graciele naquele dia. "Inclusive, teriam permitido que ele brincasse com a irmã".

Por causa do passeio, Bernardo Boldrini ligou do telefone do pai para a ex-babá, para informar que iria para a casa dela só no sábado. Graciele informou à Polícia que Leandro sabia da ida dos dois à cidade vizinha. No dia seguinte, a mulher foi buscar o menino, conforme combinado, mas o casal informou que ele havia ido para a casa de um amigo da escola. "Leandro referiu que era normal o Bernardo dormir fora de casa nos finais de semana, por isso não houve esta preocupação de procurá-lo neste dia", afirmou a Delegada.

Cristiane contou que a Polícia focou as investigações em Frederico. Nas imagens das câmeras de um posto de gasolina, Bernardo e Graciele aparecem chegando juntos, na caminhonete da madrasta, entraram no automóvel de Edelvania (um Fiat Siena) e seguiram. Elas retornaram ao local já sem Bernardo.

Depois deste dia, as duas conversaram pelo telefone algumas vezes e chegaram a se encontrar pessoalmente no consultório de Boldrini.

Execução

Confrontada pela Polícia, Edelvania ficou nervosa e confessou que a criança estava morta. Graciele dizia à amiga que o enteado era agressivo, impossível de se conviver. "Ela precisava dar um fim nele e precisava de um local para enterrar o corpo. Disse que não teria sangue, seria só um 'piquezinho' (seria aplicado um medicamento injetável no menino)". Edelvania contou que as duas compraram soda cáustica para jogar no corpo, uma cavadeira e uma pá para abrir a cova.

A motivação de Edelvania teria sido financeira, sob promessa de pagamento de um total de R$ 90 mil (ela recebeu inicialmente R$ 6 mil em espécie por Graciele).

À Delegada, Edelvania disse que Graciele afirmou que Leandro não sabia de nada, "mas que depois iria agradecer". Nesse momento, ela não mencionou que fez a compra de Midazolam (sedativo) dois dias antes da execução do crime, com receituário com carimbo e assinatura do médico. "Segundo depoimentos de familiares, havia um acordo entre advogados para que elas assumissem a culpa e inocentassem Leandro". E disse que ela própria fez o buraco, mas depois as investigações apuraram que isso foi feito pelo irmão dela, Evandro Wirganovicz.

Prisão

No dia 14/04/14, foi localizado o corpo de Bernardo, dez dias após o seu desaparecimento. Leandro, Graciele e Edelvania foram presos. O médico questionou se ele estava envolvido e se havia provas contra ele, mas a madrasta isentou a participação do médico no crime. "Ele não demonstrou emoção nenhuma no decorrer das investigações. Quando foi preso, queria saber se tínhamos provas contra ele. Ele só esboçou reação quando Graciele confessou o crime".

A Delegada disse que foi ao velório do menino e que chorou. "Sempre que envolve crianças, é muito forte. Isso não quer dizer que, por chorarmos, somos menos ou mais profissionais", afirmou Cristiane, lembrando que, na mesma época, a filha adolescente de uma colega também havia sido assassinada, o que consternou a equipe.

Defesa

Os Advogados de Leandro Boldrini interpelaram a Delegada sobre as questões abordadas durante as investigações, perguntas que não teriam sido feitas às testemunhas e informações que não teriam sido levantadas e que acabaram por formar as conclusões que levaram ao indiciamento do médico.

A testemunha ressaltou que foram uma série de fatores - dos relatos de que o menino não recebia atenção, carinho e cuidados por parte do pai até a relação de cumplicidade que ele mantinha com a companheira, que chegou a impor que se Bernardo permanecesse na família, ela iria se separar de Leandro.

"Isso nos fez ver que realmente o pai não se importava com o filho. Num segundo momento ficou evidente a cumplicidade entre Leandro e Graciele. Depois, veio o fato dele não demonstrar interesse na busca pelo filho. Quando ele fazia, era sempre provocado por terceiros", citou. "E também as escutas telefônicas, onde familiares apontam que houve uma combinação das defesas no sentido de inocentar ele para bancar as defesas das rés". E por fim os vídeos resgatados do celular de Leandro: "Ficou gritante a questão de que o pai não se importava com o filho".

Perguntada sobre a efetiva participação de Leandro no crime, a Delegada concluiu que ele teria sido o mentor intelectual do crime. "Juntos, eles definiram como seria a morte de Bernardo. Não havia mais espaço para Bernardo na família. Ela disse: 'ou eu, ou ele'". Esclareceu que não há vinculação direta de Leandro com Edelvania e Evandro. "Ele e a Graciele arquitetaram isso e ela fez todos os atos de execução".

Assim como no depoimento da Delegada Caroline Machado, prestado ontem, os Advogados confrontaram a Delegada Cristiane sobre os registros telefônicos (desde janeiro de 2014) que indicam que Leandro e Bernardo se falavam. "Me embasei na prova testemunhal e em algumas ligações que havia retorno e outras em que não havia", respondeu a testemunha. Contrapuseram também depoimentos que apontaram que Leandro tinha cuidado com o filho e demonstrava afeto.


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